quarta-feira, 26 de março de 2008

Voltar - Luis Fernado Veríssimo

Segundo o folclore, era perigoso andar nas calçadas do distrito financeiro de Nova York durante o "crash" de 1929. Você corria o risco de ser achatado por um arruinado suicida, mesmo não tendo nada a ver com a crise.
Ainda não se teve notícia de gente pulando das janelas em Wall Street recentemente mas alguém, depois de notar que a participação do banco central americano no salvamento da financeira Bear Stearns era a maior intervenção do estado no mercado em 80 anos, comentou que nada na crise atual era tão significativo quanto esta frase.
Onde está 80 leia-se 79, o número de anos que nos separa da crise de 1929, cuja possível repetição assusta alguns e anima outros.
Voltar 79 anos não é apenas voltar aos corpos se espatifando na calçada, é voltar ao fim catastrófico de anos de "laissez-faire" e ganância desenfreada que precedeu o New Deal de Roosevelt e o intervencionismo keynesiano, que vieram para acabar com a farra e salvar o capitalismo de si mesmo.
O que assusta alguns e anima outros é imaginar que a catástrofe atual possa ser igual, e provoque corretivos parecidos. Que estamos na crise terminal de outro período de vale-tudo, véspera de uma reabilitação do estado regulador, e do bom senso.
De qualquer jeito, você e eu, que não somos financistas nem costumamos passear pelas calçadas de Wall Street, precisamos estar atentos nessa crise. Mesmo não tendo nada a ver com ela, cedo ou tarde alguma coisa cairá sobre nossas cabeças.

Quase perfeito
Agora essa. Poucos dias depois de ser empossado como governador de Nova York em substituição ao espiroqueta Spitzer, o vice-governador David Baterson reuniu a imprensa para anunciar que ele também teve relacionamentos sexuais fora de casa, inclusive com uma funcionária do governo estadual, e que a sua mulher sabia e compreendia - inclusive porque ela também dava suas voltas pela vizinhança.
O que lembra aquela história da busca do candidato perfeito para governar um estado americano.
Queriam alguém que merecesse, como nenhum outro, o adjetivo "impoluto". Se se chamasse Impoluto, melhor ainda. Não poderia haver um pingo, um grão de escândalo em sua vida, nada que sugerisse um desvio de conduta, um mau hábito, um mau pensamento sequer.
E a comissão encarregada de encontrar o candidato perfeito, depois de muito procurar, finalmente o encontrou. Um santo, segundo o presidente da comissão.
Atividade sexual? Nenhuma. Possibilidade de ter tido no passado, ou ter no futuro, alguma atividade sexual? Nenhuma. Castrado? Não, desinteressado.
Dará um bom governador?
- Bom - disse o presidente da comissão - aí vocês já estão querendo demais...

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