sábado, 29 de março de 2008

Ambigüidade valoriza série sobre matador de matadores (Dexter) - CÁSSIO STARLING CARLOS

Vampiros, zumbis e "serial killers" são criaturas que nos metem menos medo do que se imagina. Seres de exceção, foram cultivados pelo cinema e depois pela TV como imagens distorcidas que refletem com mais fidelidade as fragilidades humanas do que as imitações perfeitas demais.

Dexter Morgan, protagonista do seriado cuja primeira temporada acaba de sair em DVD, é da estirpe dos assassinos seriais. Ao contrário de Hannibal Lecter, o mistério em "Dexter" não se elucida simplesmente com a exposição do lado escuro da alma e sua intriga não se resolve na mera oposição entre o mal e o bem.
Não por acaso a série se passa em Miami, cidade de cores quentes. Sob as sombras desse lugar ensolarado, Dexter transita sua aversão que desnuda tanta felicidade prêt-à-porter.
As ambigüidades da série começam na vida dupla do personagem central. Técnico de polícia, Dexter Morgan é também um assassino cuja especialidade é eliminar "serial killers".
O que interessa em "Dexter" não é a execução sumária disfarçada de justiça pelas próprias mãos. O ambiente policial é apenas um artifício ficcional no qual Dexter desfila seu ponto de vista em relação às fragilidades humanas.
Ao longo das histórias e das ações, o tempo todo se sobrepõe a voz do personagem, que comenta as obviedades dos comportamentos alheios.
Dadas suas características psicológicas e sua inclinação, Dexter é um solitário, alguém que enxerga e torna explícitas as armadilhas dos relacionamentos que o cercam. Sua acidez dirige-se, em particular, à família, foco das relações mentais, profissionais e criminais nesta primeira temporada.
Fator essencial para o sucesso da série é a presença de Michael C. Hall no papel central. Pelo excelente desempenho, o ator já foi indicado dois anos consecutivos ao Globo de Ouro.
Hall, conhecido como o David de "A Sete Palmos", traz a ironia do olhar, a aparência incomum e um tom sedutor de voz que afastam de seu Dexter qualquer rastro de monstruosidade, ao mesmo tempo em que o mergulha no poço sem fundo da humanidade.

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