Toda vez que a Igreja Católica se opõe à ciência, como no caso das células-tronco embrionárias que começa a ser julgado hoje no STF, ela nos remete a uma data que gostaríamos de esquecer: 22 de junho de 1633, o dia em que condenou o astrônomo Galileu Galilei por ter defendido o princípio de que a Terra gira em torno do Sol, de Nicolau Copérnico. Para não arder na fogueira, Galileu se desdisse. Quase 200 anos depois, a Igreja retirou sua obra da lista de livros proibidos, e em 1992 repudiou a acusação, porque, segundo o Papa João Paulo II, o caso Galileu tinha virado símbolo da "suposta rejeição do progresso científico por parte da Igreja Católica e o obscurantismo dogmático em oposição à livre busca da verdade".
O engano levou séculos para ser corrigido e mesmo assim não serviu de lição. A Igreja continua tendo dificuldade de aceitar o avanço da ciência, quer ele se apresente em forma de pílula anticoncepcional ou das atuais pesquisas, ainda que em 2005 elas já tenham sido aprovadas pela maioria de um Congresso que não tem nada de herege (em seguida, a Procuradoria Geral da República contestou a lei). Os argumentos contra a regulamentação se baseiam na hipótese de que os estudos atentariam contra o direito à vida e seriam uma porta aberta à permissão do aborto. A geneticista Mayana Zatz, respeitada especialista, autora de quase 300 trabalhos científicos, acha um "absurdo" a alegação.
Segundo ela, os países que já permitem pesquisas com células-tronco de embriões determinam que eles tenham no máximo catorze dias de desenvolvimento, enquanto no Brasil os embriões congelados têm menos ainda, entre três e cinco dias. "Estamos falando de embriões que nunca estiveram num útero, nem nunca estarão. Não existe nenhuma possibilidade de vida para eles."
Assim, o que está em jogo não é a infindável discussão sobre a origem da vida ou o direito a ela, mas se é justo descartar um material que pode salvá-la e que já existe nos laboratórios de fertilização, pois as células-tronco embrionárias são capazes de se converter em todos os tipos de célula do nosso corpo (as adultas só formam alguns tecidos e não servem para pessoas com doenças genéticas) e formarem um ser humano completo. Em outras palavras, oferecem a possibilidade de curar doenças graves como o mal de Parkinson e de tirar paraplégicos das cadeiras de rodas -- estes, sem dúvida, seres vivos.
Talvez por isso é que, como revelou o repórter Antônio Góis, a população católica seja contrária à posição oficial da Igreja no caso. Quando o Ibope perguntou aos entrevistados se consideravam "uma atitude em defesa da vida" apoiar as pesquisas com células-tronco embrionárias, 94% responderam que sim. Entre as pessoas com nível superior, a aprovação chegou a 97%.
O engano levou séculos para ser corrigido e mesmo assim não serviu de lição. A Igreja continua tendo dificuldade de aceitar o avanço da ciência, quer ele se apresente em forma de pílula anticoncepcional ou das atuais pesquisas, ainda que em 2005 elas já tenham sido aprovadas pela maioria de um Congresso que não tem nada de herege (em seguida, a Procuradoria Geral da República contestou a lei). Os argumentos contra a regulamentação se baseiam na hipótese de que os estudos atentariam contra o direito à vida e seriam uma porta aberta à permissão do aborto. A geneticista Mayana Zatz, respeitada especialista, autora de quase 300 trabalhos científicos, acha um "absurdo" a alegação.
Segundo ela, os países que já permitem pesquisas com células-tronco de embriões determinam que eles tenham no máximo catorze dias de desenvolvimento, enquanto no Brasil os embriões congelados têm menos ainda, entre três e cinco dias. "Estamos falando de embriões que nunca estiveram num útero, nem nunca estarão. Não existe nenhuma possibilidade de vida para eles."
Assim, o que está em jogo não é a infindável discussão sobre a origem da vida ou o direito a ela, mas se é justo descartar um material que pode salvá-la e que já existe nos laboratórios de fertilização, pois as células-tronco embrionárias são capazes de se converter em todos os tipos de célula do nosso corpo (as adultas só formam alguns tecidos e não servem para pessoas com doenças genéticas) e formarem um ser humano completo. Em outras palavras, oferecem a possibilidade de curar doenças graves como o mal de Parkinson e de tirar paraplégicos das cadeiras de rodas -- estes, sem dúvida, seres vivos.
Talvez por isso é que, como revelou o repórter Antônio Góis, a população católica seja contrária à posição oficial da Igreja no caso. Quando o Ibope perguntou aos entrevistados se consideravam "uma atitude em defesa da vida" apoiar as pesquisas com células-tronco embrionárias, 94% responderam que sim. Entre as pessoas com nível superior, a aprovação chegou a 97%.
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