Este ano tem tantas datas redondas a comemorar - de pessoas ou acontecimentos - que eu não sei se vai sobrar tempo para 2008 viver 2008. Ele corre o risco de ser todo de lembranças, periga o passado tomar conta do presente, principalmente quando olhar para trás é às vezes mais confortável do que olhar para o lado. Cem anos da morte de Machado de Assis e do nascimento de Guimarães Rosa. Duzentos anos da chegada da Família Real ao Brasil e do advento da Medicina. Cinqüenta anos da Bossa Nova, da Copa da Suécia e de todo o 1958. Quarenta anos de 1968. Centenário da imigração japonesa e do Atlético mineiro, sem falar no que certamente esqueci.
Existe - como não poderia deixar de ser no país do Fla x Flu, em que se disputa até com palito de fósforo - uma competição informal para saber que data é mais significativa: 1808 ou 1968? 1968 ou 1958? Maria Adelaide Amaral introduziu um outro ano nesse torneio, ao situar a trama de sua mini-série "Queridos amigos" em 1989, que ela elegeu como "tão ou mais importante do que 1968" (o curioso é que os personagens vivem em 89, mas se alimentam das recordações, da saudade e até dos traumas de 68. Alguns foram ativos militantes políticos, outro renega cinicamente seu passado de luta e a mais dramática figura da história não consegue se livrar das lembranças da tortura e das sevícias que sofreu na prisão. Na ficção, como na vida real, as pessoas têm dificuldade de esquecer aquele ano).
Se fosse entrar nesse campeonato do "mais importante", eu não teria dúvida em votar nos dois centenários, o de Machado e o de Rosa. Eles são suficientes para inflar o nosso ego e compensar carências atuais. Se tivessem escrito numa língua menos excêntrica, os dois maiores monstros de nossas Letras iriam figurar no panteão internacional de glórias literárias.
Se fosse, já não digo o inglês, mas o espanhol, ou mesmo o português de Portugal, eles estariam presentes, por exemplo, em "O cânone ocidental", livro do crítico americano Harold Bloom, que cometeu a injustiça de selecionar cerca de 500 nomes ocidentais que julga paradigmáticos e sequer citar nossos conterrâneos. Em compensação, não se esqueceu de Borges e Fernando Pessoa - muito justo - mas também de autores como Pablo Neruda, García Marquez e Vargas Llosa, que, com todo o respeito ao Prêmio Nobel (os dois primeiros ganharam), não são superiores em excelência literária aos nossos dois representantes.
Dizer que Neruda é, "segundo consenso geral, o mais universal desses poetas" [hispano-portugueses], sem se referir a Drummond e a Bandeira, mostra desconhecimento inadmissível num especialista. Daí que as embaixadas brasileiras deveriam ter como tarefa cultural providenciar traduções de nossos clássicos e bombardear críticos famosos e desinformados como esse Bloom.
Existe - como não poderia deixar de ser no país do Fla x Flu, em que se disputa até com palito de fósforo - uma competição informal para saber que data é mais significativa: 1808 ou 1968? 1968 ou 1958? Maria Adelaide Amaral introduziu um outro ano nesse torneio, ao situar a trama de sua mini-série "Queridos amigos" em 1989, que ela elegeu como "tão ou mais importante do que 1968" (o curioso é que os personagens vivem em 89, mas se alimentam das recordações, da saudade e até dos traumas de 68. Alguns foram ativos militantes políticos, outro renega cinicamente seu passado de luta e a mais dramática figura da história não consegue se livrar das lembranças da tortura e das sevícias que sofreu na prisão. Na ficção, como na vida real, as pessoas têm dificuldade de esquecer aquele ano).
Se fosse entrar nesse campeonato do "mais importante", eu não teria dúvida em votar nos dois centenários, o de Machado e o de Rosa. Eles são suficientes para inflar o nosso ego e compensar carências atuais. Se tivessem escrito numa língua menos excêntrica, os dois maiores monstros de nossas Letras iriam figurar no panteão internacional de glórias literárias.
Se fosse, já não digo o inglês, mas o espanhol, ou mesmo o português de Portugal, eles estariam presentes, por exemplo, em "O cânone ocidental", livro do crítico americano Harold Bloom, que cometeu a injustiça de selecionar cerca de 500 nomes ocidentais que julga paradigmáticos e sequer citar nossos conterrâneos. Em compensação, não se esqueceu de Borges e Fernando Pessoa - muito justo - mas também de autores como Pablo Neruda, García Marquez e Vargas Llosa, que, com todo o respeito ao Prêmio Nobel (os dois primeiros ganharam), não são superiores em excelência literária aos nossos dois representantes.
Dizer que Neruda é, "segundo consenso geral, o mais universal desses poetas" [hispano-portugueses], sem se referir a Drummond e a Bandeira, mostra desconhecimento inadmissível num especialista. Daí que as embaixadas brasileiras deveriam ter como tarefa cultural providenciar traduções de nossos clássicos e bombardear críticos famosos e desinformados como esse Bloom.
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