terça-feira, 1 de abril de 2008

Uma a menos? - ELIANE CANTANHÊDE

O Palácio do Planalto e uma penca de ministros desmentiram publicamente a existência do tal dossiê contra o casal FHC-Ruth Cardoso, e a ministra Dilma Rousseff chegou ao requinte de telefonar para a ex-primeira-dama garantindo que não havia nada disso. No tortuoso caminho para desmentir os desmentidos, o "dossiê" derrapou, virou "banco de dados" e um vexame nacional.

Parte do vexame é tentar atribuir o vazamento do dossiê do uiscão a algum tucano infiltrado no Planalto. Um tucano próximo o suficiente para ter acesso à operação e a seus detalhes, mas distante o bastante para entregar o ouro dos companheiros? Com Lula no segundo mandato, no quinto ano de governo e blindado por uma popularidade na estratosfera?
Olhando de fora, o mais provável é que o PT esteja exercitando uma velha prática do PT: a luta interna. Dilma Rousseff foi saudada como dura na queda, incorruptível, vítima da ditadura e boa executiva num governo em que bons executivos são (ou eram) peças raríssimas. Já são qualidades suficientes para atiçar um preconceito daqui, um ciúme dali e, claro, inveja de tudo quanto é lado.
Mas, ao se tornar "mãe do PAC" e presidenciável do coração de Lula, acendeu um outro sentimento ao seu redor: o da disputa. Ministros, governadores e a companheirada petista em geral engoliria assim, tão facilmente, a candidatura de uma neófita saída do PDT? Gritalhona?
Com 3% nas pesquisas? Ora, ora.
Em vez de tucanos infiltrados, Dilma deveria olhar à sua esquerda e à sua direita para identificar resistências à preferida de Lula para 2010. Uma coisa é certa: alguns caciques petistas podem nem ter nada a ver com o vazamento, mas não ficaram nem um pouco tristes com o sufoco da ministra e o recuo da presidenciável. Ao contrário.
O dossiê passa, e a fila anda -a fila de presidenciáveis petistas loucos pela bênção de Lula.


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