quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Um drama de Fidel - CARLOS HEITOR CONY

Dos males da mídia, não apenas a nacional, mas a internacional, a redundância é a mais constante. A renúncia de Fidel Castro, após 49 anos de poder, antecedeu a inevitável e imensa cobertura que ele teria por ocasião de sua morte, que, sinceramente, desejo estar bem longe ainda.
Já foi dito que toda a unanimidade é burra. No caso de Fidel, nunca houve unanimidade, a não ser em seus começos revolucionários, quando teve o apoio maciço de seu povo para derrubar uma ditadura. Quando da morte de Che Guevara, foram muitos os que começaram a contestar a sua linha de subserviência a Moscou. Para mostrar independência, ele expulsou alguns diplomatas soviéticos e mandou prender comunistas cubanos, entre os quais Aníbal Escalante, o mais destacado líder do partido.
A reação foi brutal. A URSS suspendeu o abastecimento de petróleo que fornecia a Cuba, as centrales que produziam açúcar ficaram sem combustível, o petroleiro diário que abastecia a ilha passou a ser quinzenal, depois mensal. Era a ruína da precária economia cubana, começou a faltar de tudo na ilha.
Fidel sentiu necessidade de pedir desculpas ao Kremlin. A oportunidade veio em 1968, com a crise da antiga Tchecoslováquia. Foi o primeiro chefe de Estado comunista a ir a Moscou levando seu apoio à intervenção das forças do Pacto de Varsóvia que esmagaram a decantada Primavera de Praga. A ilha voltou a ser abastecida com o petróleo soviético.
O episódio comporta contraditórias explicações. Jogada de mestre de um chefe de governo diante de um desafio truculento vindo do exterior? Ou oportunismo velhaco de um político que traía os fundamentos da luta a favor de um povo? Na ocasião, a quem ele poderia pedir ajuda? Aos Estados Unidos?

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