sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Eles voltaram a atacar - Zuenir Ventura

Vocês se lembram daqueles telefonemas em que bandidos simulavam o seqüestro de um filho ou filha, ameaçando-os de morte se o resgate não fosse pago? O tormento parecia ter acabado, ou pelo menos não se ouvia mais falar dessas histórias de horror. Pois voltaram. Pude acompanhar dois casos próximos a mim, mas tem havido outros mais, segundo a polícia. O que há de novo é que os marginais sofisticaram os seus métodos. A encenação, por exemplo, é agora mais realista. Entre os que fazem o papel de vítima, há vozes de crianças e adolescentes que representam tão bem, são tão verossímeis, que a pessoa do outro lado do telefone, assustada e sob tensão, acaba acreditando que aqueles soluços, aqueles apelos angustiados são mesmo da filha ou do filho. Isso aconteceu com um sobrinho. "A voz era igualzinha à de minha filha. Falei como se fosse ela", conta. Ainda bem que ele, apesar do nervosismo, teve a presença de espírito de desligar o celular (antes ligavam mais para telefone fixo e, como agora, a cobrar) e conseguiu localizar a menina. Com minha irmã, foi parecido. Às cinco e meia de domingo passado, ela foi acordada com uma ligação a cobrar e ouviu a mesma história: "Estou com sua filha aqui com um revólver na cabeça, vou executá-la etc. etc." Aí entra a falsa vítima e implora aos prantos, mal podendo falar: "Mãe, pelo amor de Deus, me salva." Minha sobrinha, a suposta vítima, não estava no Brasil e só ia voltar à noite. Mas a farsa foi tão bem montada e o desespero tão grande, que também minha irmã, como meu sobrinho, acreditou ter ouvido a voz da filha, e passou mal: "Tenho certeza que a voz era dela", repetia. Ficou com essa "certeza" até a noite, só se acalmando quando ela chegou. Logo depois do telefonema, a outra filha, que estava em casa, acionou o número 190 e comunicou a ocorrência. O policial de plantão agradeceu: "Foi bom a senhora ter ligado, mas só hoje já houve cinco denúncias parecidas." Por colegas, ela soube de vários outros casos. Será que não há um meio de coibir essa prática ou de prender os autores? Antes se dizia que essas ligações partiam do presídio de segurança máxima de Bangu. Agora, que estão se generalizando, é portanto mais difícil descobrir os autores. A maneira mais eficaz de desestimular esses ataques é não atender chamadas a cobrar ou então desligar logo. O problema é que, apesar de conhecer o golpe, já tão divulgado pela imprensa, muita gente continua caindo nele. Às vezes, o bandido é ridicularizado. Um deles ligou para minha casa, caiu na secretária eletrônica e ele ficou desorientado: "É um seqüestro, pô, atende essa p... logo". Com um amigo, foi mais divertido. Ao receber a notícia de que o filho estava seqüestrado, ordenou tranqüilamente: "Pode matar, ele é muito chato." O rapaz, claro, estava do seu lado.

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