terça-feira, 3 de abril de 2007

Um país-piada - CLÓVIS ROSSI

   Em qualquer lugar do mundo, empresas aéreas chamam os clientes para os aeroportos, únicos lugares dos quais podem decolar os aviões. Em qualquer lugar menos no Brasil, claro, que não é um lugar qualquer, mas uma imensa piada feita país.
A Gol emitia ontem instruções aos passageiros para que fizessem qualquer coisa, menos ir aos aeroportos, porque, no país-piada, aviões não decolam de aeroportos, ficam estacionados.
No mesmo dia em que a Gol fazia tão insólito apelo, a Varig, recém-adquirida pela mesmíssima Gol, soltava uma promoção que também é piada. Título: "Todo mundo vai voar". Oferece 90% de desconto para todos os destinos domésticos operados pela companhia, mas só neste fim de semana.
É exatamente o fim de semana em que ninguém deve ir aos aeroportos, segundo recomendação da nova dona da empresa que diz que "todo mundo vai voar".
Vai não.Tanto que outro dos atores do circense drama aéreo tupiniquim dizia ontem: "Uma paralisação longa como essa destrói a malha aérea do país. Estamos, praticamente, começando do zero neste sábado", lamentava José Carlos Pereira, presidente da Infraero, referindo-se ao "motim" dos controladores de tráfego aéreo.
"Motim" cujo encerramento foi negociado não por gente do setor, como o ministro da Defesa ou mesmo o presidente em exercício, José Alencar, que já foi ministro da Defesa, mas pelo ministro do Planejamento, que não tem por que entender alguma coisa do assunto.
Mas, no país-piada, é até melhor que seja o ministro Paulo Bernardo a negociar. Afinal, seu chefe, Lula, dizia em dezembro: "Acho que acabou a crise. A situação parece já ter se normalizado".
É outra piada, porque, três meses depois, a "normalidade" antevista por Lula era tamanha que a Gol mandava fugir do aeroporto.

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